Sr. Carlos sem emprego, agradeceu a refeição que lhe aqueceu na noite fria
A temperatura em torno de 16º não esfriou o ânimo de diretores e voluntários da Ascap. A Caminhada Solidária, com 19 participantes, na noite deste sábado, com a missão de entregar agasalhos e cobertores, e servir sopa a moradores em situação de rua de Ceilândia. Durante o trajeto, encontramos pessoas que não tinham feito nenhuma refeição durante todo do dia. A porção do caldo de legumes e pães eram a primeira refeição do sábado.
A temperatura em torno de 16º não esfriou o ânimo de diretores e voluntários da Ascap. A Caminhada Solidária, com 19 participantes, na noite deste sábado, com a missão de entregar agasalhos e cobertores, e servir sopa a moradores em situação de rua de Ceilândia. Durante o trajeto, encontramos pessoas que não tinham feito nenhuma refeição durante todo do dia. A porção do caldo de legumes e pães eram a primeira refeição do sábado.
A primeira parada dos caminhantes foi, bem no início de Ceilândia, na pista de acesso ao cemitério de Taguatinga. Diante do movimento, provocado pela chegado dos carros, duas moradoras se aproximaram. Ambas sem nenhum agasalho. Aceitaram a sopa e pediram cobertas. Uma delas foi rapidamente em casa e pegou um vasilhame maior para levar um pouco mais do delicioso caldo para a próxima refeição.
Em seguida, os caminhantes foram para a invasão na Quadra 1/3 de Ceilândia. Famílias que viviam no bueiro de um do muitos prédios residenciais não estavam mais lá. Um homem, que vive na rua e não quis se identificar, disse que todos foram retirados do bueiro. Em caminhadas anteriores, a situação das pessoas que ali viviam era algo inimaginável. Estavam, literalmente, enterradas na indigência e na invisibilidade diante do poder público.
Mas várias pessoas em situação de rua logo se aproximaram. Estavam ávidas por alimento e agasalhos. Entre elas, o maranhense Carlos, 65 anos, desde de 1965 no Distrito Federal, se diz sem condições de trabalhar como pintor de parede. No trabalho, caiu da escada, fraturou o joelho, o que o impossibilita de voltar à ativa. Sem ter onde morar, hoje, vive na rua. Elogiou a sopa e agradeceu a generosidade do grupo.
Domingos é mais um entre os mais de 13 milhões de brasileiros de desempregados. Vendedor, ele deixou Palmas, capital de Tocantins, e veio para o Distrito Federal, há alguns meses, para tentar a sorte. “Até agora não consegui nada e estou morando pelas ruas daqui (Ceilândia)," Além da porção de sopa e pães, ele buscava um paletó para se agasalhar. Uma peça serviu mais ou menos — Domingos é um homem alto e as mangas ficaram um pouco curtas —, mas ele se disse satisfeito.
Entre os atendidos da QNN 1/3, estava uma jovem que não queria ser fotografada nem se identificar. Ela disse que a sopa e os pães eram a sua primeira refeição do sábado. Mas se mostrou bem arredia e não queria muita conversa. Antes de deixar o local, ela agradeceu muito a todos e desejou: “Deus abençoe vocês”. Há poucos metros dali, soubemos que a UPA de Ceilândia estava fechada e que, provavelmente, o pronto socorro do hospital (HRC) deveria estar lotado.
Os caminhantes foram o HRC e lá pães, sopa e agasalhos fizeram a alegria de quem estava acompanhando pacientes ou nas proximidades sem destino certo. Os vigilantes também sorveram do caldo já morno e degustaram os pães oferecidos. Nada sobrou ao fim da caminhada, encerrada na porta do hospital.
Retomada
Embora a Ascap não tenha conseguido, pelos mais diversos motivos, realizar a Caminhada Solidária mensalmente, o projeto, agora, foi retomado. A intenção é promover essa atividade todos os meses entre moradores em situação de rua, visita à instituições não financiadas pelo poder público, e portas de hospitais, onde a maioria dos acompanhantes não têm meios de fazer um lanche, enquanto estão ao lado de um familiar ou de um amigo que espera socorro médico. Hoje, a rede pública de saúde não garante mais refeições a eles. O objetivo é compartilhar, ainda que pouco, o que temos, traduzindo o lema: solidariedade é atitude.
A caminhada foi muito tranquila. Um sentimento de irmandade contagiava os participantes. Os cenários por onde passamos revelaram que há muitas pessoas em condição de indigência social, seja por falta de emprego, seja por não terem moradia. Foi possível ver pessoas dormindo nas calçadas, enroladas em finos cobertores. Outras embriagadas e sem rumo certo, próximas à degradação. A fome de muitos merece reflexão profunda sobre a injustiça social e econômica. Não se pode esperar do poder público a solução desses problemas. Precisamos agir e só a solidariedade entre as pessoas pode transformar a dura realidade que nos rodeia.
Agradecimentos especiais:
ao Movimento Maria Cláudia pela Paz pela doação de pães
ao voluntário Sebastião pela coleta de legumes na Feira dos Produtores de Ceilândia
aos Produtores da Feira de Ceilândia pela doação de verduras e legumes
ÁLBUM DA CAMINHADA
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