Durante a cerimônia, a jornalista e ativista pela paz Valéria de Velasco, uma das fundadoras do Comitê Nacional de Vítimas da Violência, será homenageada
A violência no Brasil atingiu níveis superiores ao de países conflagrados. Ricos ou pobres estão igualmente ameaçados. Em 2017, ocorreram 65.620 homicídios, dos quais 72,4% por arma de fogo, segundo o Atlas da Violência, produzido pela Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Uma taxa de 31,6 assassinatos por 100 mil habitantes, a maior da história. Na Síria, em guerra civil desde 2011, foram mortas 500 mil pessoas, em média, 62.500 mortes por ano.
Diante desse cenário de horror, flexibilizar o Estatuto do Desarmamento seria insuflar a violência. Para contribuir com o debate sobre o tema e mostrar o quanto é equivocada a proposta de liberar a venda de artefatos bélicos e munições, no próximo dia 9, às 15h, no Salão Principal, da Câmara dos Deputados, será lançado o livro Armas para quê?, de autoria do professor Antônio Rangel Bandeira, ex-diretor do Departamento de Sociologia e Política da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ). Ele compôs o grupo que elaborou e trabalhou pela aprovação do Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/2003), a partir da experiência do então presidente da África do Sul, Nelson Mandela.
No lançamento da obra, haverá um debate, com a participação de deputados e senadores, que defendem o Estatuto do Desarmamento. Haverá um momento especial em homenagem a jornalista Valéria de Velasco, que morreu em 17 de abril do ano passado. Ela, por mais de 25 anos, foi uma ativista da cultura de paz. Teve relevante papel, no Distrito Federal, na luta contra a venda de armas e munições. À frente da Subsecretaria de Apoio às Vítimas de Violência (Pró-Vítima), Valéria de Velasco, estabeleceu um marco no atendimento de pessoas e famílias que perderam seus entes queridos pelas mais diferentes expressões de violência. O Pró-Vítima foi inspirado nos princípios do Comitê Nacional de Vítimas de Violência (Convive), formado por famílias que tiveram integrantes mortos por agressão — espancamento, armas de fogo e de outras expressões da fúria humana.
O estudo do Ipea e do Fórum de Segurança Pública mostrou que o Estatuto do Desarmamento, poupou milhares de vidas na década encerrada em 2017. A média de crescimento dos homicídios nos 14 anos anteriores ao Estatuto era de 5,44% ao ano. Com a edição da lei, a média de crescimento no número de vítimas por armas de fogo caiu para 0,85% ao ano. Portanto, não faz sentido liberar a posse e o porte de armas de fogo e repassar ao cidadão responsabilidade pela própria segurança. Os números confirmam que mais armas implicam mais mortes. Cabe, portanto, ao Estado a implementação de uma política segurança pública, que assegure a integridade dos brasileiros e enfrente, com inteligência e estratégia, o crime organizado, além de conter o tráfico de armas no país, por meio de ações eficientes nas fronteiras.
Há mais de um ano, o serviço de atendimento psicológico da Ascap vem atendendo vítimas de violência. Elas são a maioria dos pacientes. Vencer os traumas causados pelas agressões não é nada fácil. Daí, a importância de maior engajamento das pessoas de bem contra toda e qualquer expressão de agressão, sobretudo a liberação do comércio de artefatos e munições.
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