A estrutura precária do barraco passa a ideia de que, a qualquer momento, tudo vai desabar |
Provavelmente, nenhuma dessas ideias passou pela sua cabeça. Melhor: você nunca se viu morando com tamanha precariedade. Silvanir de Souza também não imaginou que depois de 31 anos na capital federal passasse por essa situação, com cinco filhos — o caçula tem 2 anos e três meses, e a mais velha, com 14. Ela chegou até o sétimo do ano do ensino fundamental. O marido, até pouco tempo, trabalhava na limpeza de um shopping. Mas tudo mudou com a pandemia do novo coronavírus.
O marido, chegou ao penúltimo ano do ensino médio. Parou. Hoje, busca uma oportunidade como chapista (alguém que descarrega caminhões na Ceasa). Antes, trabalhava com a produção de adubo. Na Ceasa, as oportunidades são irregulares. Nem sempre tem trabalho. Sair de casa na incerteza, é desperdiçar o dinheiro do leite ou do pão e não ter como voltar.
“Tem dias que não sabemos o que fazer para alimentar as crianças”, diz Silvanir, que recebe R$ 380 por mês de um programa social do governo. “Agora, melhorou um pouquinho com o auxílio emergencial, mas em breve isso vai acabar e não está fácil para o meu marido conseguir trabalho”, avalia, com olhar distante, que traduz a angústia ante um futuro incerto. A penúria é uma realidade, da qual é difícil de se livrar.
No DF, mais de 330 mil trabalhadores perderam o emprego, segundo da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan). O estudo revelou que entre abril de 2019 e igual mês deste ano, o desemprego passou de 19,8% para 20,7%, revelou o estudo da empresa. À medida que a crise epidemiológica agrava, as empresas, sem perspectiva de faturamento, seguem dispensando os empregados. No capital da República até universidades particulares começaram a dispensa docentes e funcionários administrativos. A cada dia, a situação se torna pior.
A bondade das pessoas e a ajuda de instituições, como a Ação Social Caminheiros de Antônio de Pádua (Ascap) são, segundo ela, o que salva. Mas os auxílios nem sempre chegam na hora de maior necessidade. Enquanto isso, de mansinho, o caçula, Ângelo, chega ao colo, esfrega o rosto contra o seio de Silvanir, e ela para de relatar o drama de todos os dias: “Até hoje ainda amamento ele”, diz, com um sorriso, e acaricia o pequenino.
Silvanir e a família estão entre os moradores do Madureira, uma pequena favela, a menos de dois quilômetros da Feira do Produtor de Ceilândia, na área do Setor Habitacional Sol Nascente. Ela agradece a Deus pela saúde da família. Não têm máscara, álcool em gel ou algo equivalente. O barraco insólito compromete a higiene da família. E não há chance de ter a condição de bem-estar. Diante desse quadro tenebroso, a Ascap espera encontrar uma empresa ou pessoas que, inspiradas pelos sentimentos de solidariedade e fraternidade, habilitem-se a doar materiais de construção para garantir um mínimo de vida digna para Silvanir e sua família.
São realidades fora dos olhares das autoridades governamentais. Triste. Parabéns pelo trabalho da AscapDf
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