Pular para o conteúdo principal

Roda de Conversa no Instituto Tocar: respeito e aprendizado

Roda de Conversa com homens sobre equidade de de gênero, acolhidos pelo Instituto Tocar, em Taguatinga


Respeito e aprendizado. Foram as palavras mais repetidas na primeira Roda de Conversa, de uma série de quatro encontros, iniciados ontem (27/4), com 20 homens acolhidos pelo Instituto Tocar de Taguatinga, para abordar o tema equidade de gênero, nas últimas atividades do projeto M+H: Jovens contra a violência, apoiado pelos instituto Caixa Seguradora e Promundo.  A indagação “o que é gênero?” orientou o debate, coordenado pelos facilitadores Adilson Costa, psicólogo e terapeuta comunitário integrativo, e Helenice Bastos, terapeuta comunitária integrativa, que compõem a equipe da Ascap, no desenvolvimento do projeto.

Numa bela casa, onde funciona o Instituto Tocar, às 20h30, como combinado, estavam todos reunidos no pátio coberto, que serve de refeitório e sala de tevê. Os participantes ficaram muito atentos à exposição do psicólogo Adilson Costa sobre os diferentes gêneros, identificados pela ciência, entre os extremos que se convencionou denominar homem e mulher.

Para a maioria, as informações foram uma novidade.  Descobrir que “nem todos são iguais”, como reconheceu Maurício, representou para o Almir “despertar”, e na opinião de Agneri significou “mais conhecimento”.  “A ideia do projeto é fantástica e deveria ser dada nas escolas”, avaliou Eduardo, que destacou a “separação entre mente e corpo”, uma das razões das diferentes orientações sexuais, nem sempre compreendidas por grande parte das pessoas.  Cleison reconheceu que a ciência evoluiu, ao identificar as várias orientações sexuais, mas “a sociedade tem que correr atrás”, numa referência subliminar aos preconceitos e discriminações que ainda comprometem as relações humanas.

Ubirajara afirmou que “nunca tinha aprendido que havia tantos gêneros”. Ele revelou que tem um irmão casado com outro homem e admitiu: “Agora tenho que respeitar ele”. Batista reafirmou a importância do “respeito” entre as pessoas, independentemente da “orientação sexual”. Carlos arrematou: “Conhecimento e respeito ao próximo”.

Sem tirar os olhos do crochê, Antônio disse que aprendeu que não se deve “discriminar ninguém, para não ser discriminado”. E acrescentou: “Todos os dias a gente aprende”. Marcelo seguiu a mesma linha de pensamento: “O respeito é isso. Devemos respeitar uns aos outros. Tem que ser mútuo, independente de raça, cor, religião...” Ele condenou também os líderes religiosos que torcem e rezam pela morte dos que são considerados “diferentes”, atribuindo a eles “insensibilidade, falta de amor”, e sentenciou: “É algo desprezível”.

A primeira distinção destacada por Adilson foi entre igualdade e equidade. Em uma disputa, as regras são as mesmas para todos, ou seja, estabelecem igualdade entre os concorrentes. A equidade, por sua vez, incorpora o censo de justiça. Assim, ainda que as regras sejam as mesmas para todos os competidores, não haveria justiça num campeonato esportivo entre um atleta de ponta e uma pessoa que, mesmo tendo aptidão para o esporte, não tenha recebido nenhum treinamento; ou, ainda, entre um homem e uma mulher, considerando o homem tem mais massa muscular e, portanto, são fisicamente mais fortes do que as mulheres. Nesse caso, não haveria censo de justiça e, portanto, inexistiria equidade entre os gêneros.

Facilitadores: Helenice e Adilson

O psicólogo discorreu sobre as diferenças entre os gêneros: cis (também conhecido como heterossexual), transexual, intersexual (no passado, chamados de hermafroditas), pansexual, bissexual, gays, assexual. Ressaltou que não existe “opção” sexual. “As pessoas já nascem com orientações próprias, não fazem escolhas. E muitas sofrem por ser prisioneiras de um corpo que não corresponde ao que sentem”, explicou Adilson. Com base na evolução da ciência, ele abordou ainda o processo cirúrgico que permite a readequação sexual das pessoas. Trata-se de um processo que leva pelo menos dois anos com rigoroso acompanhamento médico.

A avaliação do encontro pelos participantes foi organizada pela terapeuta comunitária integrativa Helenice Bastos. Ela recomendou que todos falassem em primeira pessoa, não dessem conselhos e não interrompessem a fala do outro. Foi um dos momentos auspiciosos da Roda de Conversa, em que preponderou a expressão-chave: “respeito”. Edilene (Branka), orientadora social do Instituto Tocar, fez o encerramento da atividade, com uma bela declaração: “Respeito é se colocar no lugar do próximo. É você sentir amor”.


Após o encerramento: união das equipes do Instituto Tocar e da Ascap


_______________________________

A atividade realizada em parceria a Coordenação do Instituto Tocar, mobilizada pela equipe Bruno, Edilene, Israel e Marcelo Fernandes ; Integram a equipe do projeto M+H, desenvolvido pela Ação Social Caminheiros de Antônio de Pádua (Ascap), Helenice Bastos, Adilson Costa, Marcelo Fernandes e Rosane Garcia

Comentários

  1. Que projeto maravilhoso! Que deveria existir para todas as comunidades masculinas do país, para todas as classes sociais. Precisamos de acabar com o machismo patriarcal que marca nosso país. Assim, as pessoas de todos os gêneros seriam mais felizes. Parabéns!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Feminicídios: Até quando?

Ação Social Caminheiros de Antônio de Pádua recebeu e aceitou o convite para participar do 2º Encontro Plantio de Flores,  uma homenagem às vítimas de feminicídio, ao lado de representantes de outras instituições e do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). O evento será no Parque Ecológico Riacho Fundo, neste domingo, das 9h às 11h, no Riacho Fundo 2. Para a AscapBsB, a vida de qualquer mulher importa. Portanto, não há como ficar conformada ou alheia ao que vem ocorrendo no DF e no restante do país, onde há um aumento absurdo do número de vítimas do machismo. A maioria dos projetos da instituição tem foco nas mulheres da periferia, em situação de vulnerabilidade socioeconômica e também emocional. Fazer parte das ações em defesa da mulher é transformar a solidariedade em atitude. Nos primeiros 10 meses deste ano, ocorreram 38 atentados e 31 feminicídios no Distrito Federal. Dezenas de crianças e adolescentes perderam as mães e  as famílias ficaram enlutadas com a

2023 com mais alegria e menos fome

Mais de 33 milhões de brasileiros passam fome no Brasil. Uma realidade cruel em um país que produz milhões de toneladas de alimentos, que revela o tamanho da desigualdade social e econômica. As políticas públicas estão muito aquém das necessidades da parcela expressiva da sociedade brasileira. Diante desse quadro caótico, é preciso fortalecer a solidariedade. É fundamental compartilhar. Mas é preciso também expressar gratidão aos que têm um olhar fraterno e solidário com aqueles que pouco ou nada têm. A Ação Social Caminheiros de Antônio de Pádua (AscapBsB) tem conseguido agregar pessoas com esses olhares e sentimentos, assim, obter meios para aplacar o sofrimento de famílias que enfrentam graves dificuldades..  A bondade de diferentes colaboradores permitiu à instituição promover a atividade “2023 com alegria e sem fome”. Entre o Natal e o novo ano, doações de alimentos e brinquedos fizeram a festa de crianças e mulheres, a maioria delas mãe solo, ter o que servir à mesa. Na periferia

Roda da TCI: mais segurança para vencer a insegurança

Participantes da roda de Terapia Comunitária Integrativa Tarde de sábado com terapia comunitária integrativa (TCI). Foi a retomada de uma atividade que muito bem faz à mente e ao coração. Não foi grande como desejávamos nem pequena decepcionasse. Foi uma roda linda, com mulheres que não conheciam a TCI. Melhor: anunciaram que querem participar sempre dos encontros. A terapeuta Rosana Andrade, deu um show de sabedoria, conduzindo com afeto, carinho e muita alegria a roda.  O tema foi insegurança, inspirado a partir de uma tentativa de invasão da residência de uma das participantes. O que fazer diante dessa ameaça, da qual ninguém está livre?  Daí, vieram indagações, comentários, troca de experiências e sugestões para a superação de um momento tão adverso, que expõe a nossa fragilidade.  Foram quase duas horas de conversa, num clima extremamente agradável. Ficou evidente que nem todos os males são tão ruins como pensamos, mas episódios que nos ensinam como nos defender e superar aquele m

Abertas as inscrições para formação de costureira e terapia comunitária integrativa

Roda de conversa, com apoio da terapia comunitária integrativa A Ação Social Caminheiros de Antônio de Pádua abriu as inscrições para os cursos de corte, costura e modelagem e de Terapia Comunitária Integrativa. De acordo com o projeto Fortalecimento do protagonismo social, saúde emocional e qualificação profissional , em parceria com o Polo de Cuidados Correnteza, de Sobradinho, a meta é formar, até 2023, 150 profissionais em corte, costura e modelagem, e 30 terapeutas comunitários integrativos (TCI).  Os cursos serão gratuitos. A única exigência é a de que os inscritos sejam assíduos às aulas e não desperdicem essa oportunidade, que pode significar uma mudança na vida de cada participante. Pela primeira vez em sua história, a AscapBsB, com apoio da senadora Leila Barros (DF), conseguiu, por meio de emenda parlamentar ao Orçamento da União, recursos para a desenvolver atividades voltadas às pessoas que vivem, prioritariamente, em Ceilândia, Sol Nascente, Expansão do Setor O de Ceilâ

Curso básico de costura transforma vida de mulheres em Ceilândia

Formatura das turmas 10, 11, 12 e 13 em 25 de março de 2023: 41 mulheres Para a maioria das mulheres capacitadas, a formação resultou em grandes e significativas transformações em suas vidas Costurar vai além de ser uma atividade profissional. Serve como terapia para aliviar as dores da alma. Para Ana Maria Matias da Silva, 44 anos, nascida em Taguatinga, mãe solo de quatro filhos, participar do curso básico de costura promovido pela Ação Social Caminheiros de Antônio de Pádua (AscapBsB) — organização da sociedade civil sem fins lucrativos, com sede em Ceilândia —, foi a corda que a tirou do fundo do poço. "Eu estava com depressão, preocupada sobre como criar meus filhos", diz ela, que hoje tem na costura a principal fonte de renda. Ana Maria diz que a costura transformou a sua vida O encontro com a Ascap ocorreu em setembro do ano passado. À época, Ana Maria morava no Sol Nascente, quando viu o banner do curso na parede da instituição. Era tudo o que queria, uma vez que não