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Solidariedade deu sabor à Páscoa

A tragédia da fome só será superada com emprego e renda


Semblantes entristecidos, olhares envergonhados e emocionados. Sinais comuns à maioria de mulheres e homens que, no último sábado (3/4) foram à Ascap para receber uma cesta de alimentos. Para os atendidos foi o grande presente de Páscoa, na véspera da data festejada pelos cristãos, e que não passaria em branco nem com pratos vazios. Eles chegaram aos poucos, dentro do horário combinado, para evitar aglomeração, algo impensável quando mais de 3 mil pessoas morrem por dia, vítimas da pandemia do novo coronavírus no país. Os homens não conseguiam disfarçar o constrangimento de receber uma cesta. Todos disseram estar desempregados e sequer conseguiam um “bico” para sustentar a família.

No total, foram distribuídos cerca de 500 quilos de alimentos a famílias com renda mensal entre R$ 100 e R$ 500. A maioria reside no Setor Habitacional Sol Nascente. As doações só foram possíveis graças à generosidade de pessoas que têm um olhar além de suas casas, sentam-se à mesa preocupadas com aqueles que vivem com muita dificuldades e se perguntam: “Quantos estão sem fazer uma refeição?” Na semana anterior, a Ascap recebeu 20 cestas do Movimento Maria Cláudia pela Paz, totalizando 500kg — suficiente para atender 20 das 42 famílias cadastradas. Um gesto de solidariedade que deu sabor à Páscoa de dezenas de pessoas.

 

A FOME

A fome e a insegurança alimentar não são fenômenos socioeconômicos novos no país. Em 2014, o Brasil saiu do Mapa Mundial da Fome. Mas, em pouco tempo, pela ausência de políticas públicas adequadas retornou ao triste cenário em que vivem 805 milhões no mundo. Com a crise sanitária, que afetou o planeta, no início de 2020, a situação que vinha piorando a cada tornou-se dramática.

Hoje, dos 211,7 milhões de brasileiros, 116,8 milhões (o equivalente ao dobro da população da Argentina) enfrentam algum grau de insegurança alimentar e, destes, 43,4 milhões não têm alimentos em quantidade suficiente para suprir suas necessidades (insegurança alimentar moderada) e 19 milhões (o correspondente a população da grande São Paulo) passam fome (insegurança alimentar grave). Os dados são do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, desenvolvido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan) como parte do projeto VigiSan (empresa especializada em vigilância sanitária há 25 anos). O estudo foi realizado entre 5 e 24 de dezembro de 2020, abrangendo 2.180 domicílios nas cinco regiões do país, em áreas urbanas e rurais.

O Norte e o Nordeste, 18,1% e 13,8%, respectivamente, são as regiões com maiores índices de fome no país, áreas que registram as mais altas taxas de desemprego, que, hoje, no país chega a mais de 14,3 milhões de brasileiros. No Centro-Oeste, onde está o Distrito Federal, a insegurança alimentar grave afeta 6,9% dos 16,5 milhões da população que vive na região. Entre o público entrevistado, a tragédia da fome está presente em 11,1% dos lares chefiados por mulheres, em 10,7%, por negros (pretos ou pardos) e 14,7% por pessoas com baixa escolaridade.

Os dados do estudo, praticamente, espelham a realidade da periferia tanto do Sol Nascente quanto das bordas de Ceilândia Norte, onde está a maioria das pessoas atendidas pela Ascap e que foram entrevistadas no ano passado para avaliar como essas famílias estavam lidando com a pandemia do novo coronavírus, em meio ao desenvolvimento do Projeto M+H: Jovens Contra a Violência, pela instituição, com apoio dos institutos Caixa Seguradora e Promundo, voltado à equidade de gênero.

Até meados do segundo semestre, enquanto durou o auxílio emergencial do governo, havia mais facilidade de obtenção de doações para suprir a carência alimentar em vários lares. A Ascap chegou a obter mais 40 cestas, suficiente para atender cadastrados e manter uma reserva para demandas emergenciais. Desde o último trimestre de 2020 até hoje, as doações diminuíram, uma dificuldade a mais para colaborar com as famílias. O desemprego e a necessidade de permanecer em isolamento social, face ao agravamento da crise sanitária e a falta de vacinas para a imunização em massa, agravam ainda mais as dificuldades dos que vivem na periferia.

Ainda segundo o estudo, a superação da fome passa por políticas públicas voltadas à criação de empregos e renda. Nos grupos familiares em que a renda per capita é de um salário mínimo ou mais, a fome é zero.


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