“Estava
à toa na vida
O
meu amor me chamou
Pra
ver a banda passar
Cantando
coisas de amor”
Com a música
A Banda, Chico Buarque de Hollanda
venceu, em 1966, o festival de música popular brasileira da Record. Lá se foram
55 anos. Mais de meio século depois, falta-nos tempo “pra ver a banda passar
cantando coisas de amor”. Desde o ano passado, o que temos assistido diariamente são episódios de horror. Famílias inteiras desestruturadas pela perda de
entes queridos em razão da covid-19. O desemprego alcançando taxas absurdas. A
fome se espalhando pelos quatro cantos do país — o Brasil voltou ao Mapa
Mundial da Fome. A inflação voltou a corroer nossos rendimentos. O poder
público se encontra numa sinuca de bico e não consegue identificar caminhos
para vencer a crise.
Mas,
se não podemos assistir ao espetáculo popular, podemos agir por amor aos que
sofrem muito com tantas tragédias, com a perda do seu ganha pão diário e com
tantas outras dificuldades que ilustram as desigualdades sociais e
econômicas. É possível compartilhar o que temos em excesso e direcionar nossas
energias, nossos saberes para aliviar o sofrimento de tantas pessoas que, como
qualquer um de nós, sente a dor das perdas, da falta de alimentos à mesa, do
agasalho que as aqueçam nos dias e noites frias e agir para que elas consigam
meios de buscar o próprio sustento e de suas famílias.
Disposição
Foi com essa lógica que a equipe da Ação Social Caminheiros de Antônio de
Pádua decidiu construir projetos e sair em campo para buscar apoio e meios
financeiros que lhe permitam executar ações voltadas à qualificação de pessoas,
principalmente mulheres, que estão em situação de vulnerabilidade social e
econômica. E como integrantes de uma banda fomos à praça à procura de parceiros
tanto no setor público quanto no privado. A AscapBsB é o nosso instrumento, a
pauta musical tem como refrão a “solidariedade de gente que gosta de gente” e a
organização pretende estar entre as finalistas que compõem as iniciativas para transformar
vidas em meio ao festival de tristezas. Em vez de nos abater, o vírus foi um
estimulante para lutarmos, cada vez mais, por aqueles que sofrem em situação de
indigência socioeconômica.
Ressalte-se
que a AscapBsB tem como principal fonte de renda a realização de um bazar
sempre no segundo sábado de cada mês. Em razão da pandemia, a sua fragilidade financeira
foi agravada. As exigências de prevenção de covid-19 não permitiram a
organização promover o bazar. Mesmo com todos os cuidados, como determinados
pelos especialistas, haveria o risco de aglomeração. Mas essa limitação não
inibiu o ânimo da equipe para pensar e produzir. Foi uma estratégia para que em
2022, em melhores condições sanitárias, possamos compensar o tempo perdido e desenvolver
com mais dinamismo e alegria as atividades programadas. Saiba o que fizemos em
2021:
Conquista inédita
Pela primeira vez
na sua história, a AscapBsB, em parceria com o Polo de Cuidados Correnteza,
sediado em Sobradinho, foi contemplada com uma emenda parlamentar ao Orçamento
da União, para incrementar o projeto Fortalecimento
do protagonismo social, da saúde emocional e qualificação em comunidades do DF.
A emenda foi apresentada pela senadora Leila Barros, conhecida como a Leila do
Vôlei, que acolheu a proposta da AscapBsB e do Polo Correnteza, que trabalha
com a Terapia Comunitária Integrativa (TCI).
Os
recursos serão liberados pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos. A meta é a formação de 150 costureiras(os) e 30 terapeutas comunitários
integrativos, até 2023. Vencidas todas as etapas burocráticas, a equipe prevê
que as aulas práticas de corte, costura e modelagem terão início no próximo mês
(janeiro de 2022). As inscrições seguem
abertas aos interessados — acesse o link do formulário
de inscrição.
Saúde emocional
Os ensaios começaram em 2018, quando inauguramos os dois primeiros consultórios
da Psicologia Solidária, um projeto voltado à saúde mental e emocional de
pessoas da periferia que não têm acesso à psicoterapia seja por falta de
dinheiro seja pela falta de espaço na agenda de consultórios da rede pública de
saúde. Em 2019, o projeto avançou, ganhou ritmo e chegou em dezembro com um
balanço positivo. Foram 72 atendimentos de pessoas, a maioria delas mulheres.
Quando planejávamos expandir o serviço, a pandemia do novo coronavírus forçou o
engavetamento das ações previstas. O staff de profissionais encolheu, devido à
pandemia.
Apesar
da crise sanitária, a reduzida equipe de psicólogos seguiu atendendo as pessoas
que buscaram alento na AscapBsB. Somente neste ano (2021), foram 74
atendimentos. Muitos pacientes, antes atendidos presencialmente, se viram
obrigados a abandonar a psicoterapia, seja por falta de privacidade seja de dinheiro para ter um pacote de dados que permitisse o acesso à
internet.
Retomar
as ações da Psicologia Solidária é prioridade máxima para a AscapBsB. Para
isso, a organização levou ao subsecretário de Direitos Humanos do Distrito
Federal, Juvenal Araújo, um projeto para financiar esse serviço essencial às
comunidades da periferia de Ceilândia, Expansão do Setor O, Setor Habitacional
Sol Nascente e de outras regiões do Distrito Federal, que abrigam pessoas com hipossuficiência.
Em torno de 90% os atendimentos são gratuitos. Para quem tem condições
financeiras, a AscapBsB estabeleceu uma taxa social de R$ 30, destinada ao
custeio do serviço. Ou seja, essa contribuição é destinada à compra de papel,
toner para impressoras e pastas para os prontuários.
Na
reunião com o subsecretário Juvenal, ele ficou bastante sensibilizado com a
proposta apresentada pela AscapBsB e se comprometeu em ajudar a instituição a
buscar meios para o financiamento da Psicologia Solidária, que necessita de
comprar testes, gratificar os profissionais da psicologia, assistente social, secretárias
e garantir a presença de psiquiatra na equipe. Trata-se de um grupo indispensável
ao projeto, que almeja um tratamento integral e de excelência aos pacientes que
chegam à organização.
Revisão do Estatuto
Diante da impossibilidade de promovermos a Roda de Conversa Bem Mais Mulher — Eu faço meu destino, um projeto
iniciado em 2018, voltado à saúde emocional de mulheres da periferia e espaço
de identificação das demandas do universo feminino da periferia, aproveitou-se
esse espaço da agenda de atividades da AscapBsB para trabalhar a revisão do
Estatuto, criado há mais de uma década, e adequa-lo à conjuntura atual e ampliar
o raio de atuação da organização.
Hoje,
a AscapBsB poderá, com a mudança estatutária, apresentar projetos nos campos da
cultura, do meio ambiente e da educação. Dessa forma, acredita a atual
diretoria, poder-se-á oferecer um leque maior de atividades e atender as
necessidades das comunidades de periferia.
Cultura
Em outubro último, a AscapBsB conseguiu se inscrever no Fundo de Apoio à Cultura (FAC). Com essa conquista, a organização está credenciada a disputar o financiamento de projetos destinado a organizações do terceiro setor por meio de editais da Secretaria de Cultura e Economia Criativa. Hoje, a equipe da AscapBsB monitora, com o auxílio de voluntários, editais da Secretaria de Cultura, pois está elaborando projetos para que sejam contemplados e executados com recursos do poder público.
Assistência Social
Em junho, a AscapBsB enviou ao Conselho de Assistência Social (CAS) do GDF toda a documentação exigida para seu reconhecimento e inserção no colegiado, como organização de assistência social. Conseguiu o protocolo do processo, documento indispensável para atender aos requisitos do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, a fim de obter a liberação dos recursos da emenda ao Orçamento da União, para custear o projeto Fortalecimento do protagonismo social, da saúde emocional e qualificação em comunidades do DF. A AscapBsB foi vistoriada por meio virtual e respondeu às entrevistas dos técnicos do CAS. No último dia 3 deste mês, a AscapBsB foi informada de que a direção do CAS foi integralmente mudada. Atribuiu-se a essa mudança ao atraso no reconhecimento da organização. Encerradas as festas de fim de ano, a equipe da Ascap retomará o contato com o CAS.
Concluímos este relatório expressando nossa gratidão às pessoas físicas que colaboraram financeiramente com a organização ao longo deste e de anos passados. Sem esse apoio o que é difícil ficaria muito mais complicado. Gratidão também aos voluntários que colaboram com as atividades sempre que é possível realizá-las e de modo especial à Igreja Messiânica que segue ajudando com alimentos para possamos suprir a necessidade das famílias em dificuldades. Enfim, a diretoria agradece a todos que auxiliaram, na medida de suas possibilidades, para os avanços e o crescimento da organização.
A
AscapBSB deseja a todos que 2022 seja um ano de paz,
saúde plena e alegrias. Que haja menos desigualdades,
menos fome, mais trabalho digno e possamos,
juntos, voltar a "cantar coisas de amor"
Boa Tarde! Excelente matéria Rosane.
ResponderExcluir